No princípio criou Deus o céu e a terra. (Gênesis 1:1)
No princípio – Quando Moisés recebeu a revelação da Criação da Terra teve a árdua tarefa de descrevê-la com símbolos terrenos. Imagine! Deve ter sido uma tarefa imensa! Ele precisou usar palavras comuns para explicar o extraordinário. Moisés estava ciente de que o povo de Deus, que receberia seu relato, precisava compreender o suficiente da Criação para achegar-se ao Salvador. Eles precisam saber que Deus criou a Terra, que o fez de maneira ordenada e sábia, que fez o homem e a mulher à Sua semelhança e que descansou no sétimo dia. A intenção do profeta, portanto, não era a de dar detalhes sobre “como” a Terra foi criada – e nem “quando”.
A expressão “no princípio” não deduz a priori um ponto de partida ou um inicio do nada [1]. “No princípio” trata-se da palavra mais adequada encontrada por Moisés (ou pelos copistas e tradutores) para descrever um momento na eternidade, uma divisão entre eventos, na qual a obra de criação começou para nós. Mas veja: até essa ideia (de momento na eternidade) é absolutamente inconveniente para mentes mortais como a nossa. Gostamos de considerar apenas coisas que somos capazes de entender. Nosso raciocínio nos leva a pensar que se na eternidade não há tempo, como, então, se pode falar de um “principio”? Neste contexto a declaração do Presidente Brigham Young é oportuna:
“Quando houve um começo? Jamais houve um; se houvesse, haveria um fim; porém jamais houve um começo; por conseguinte, nunca haverá um fim; assim é a eternidade. Quando falamos a respeito do inicio da eternidade, é uma conversa bastante simplória, e vai muito além da capacidade humana.” (Discursos de Brigham Young, pg. 47)
Moisés precisou ser transfigurado e arrebatado e conversar com Deus (Moisés 1) para entender coisas que os olhos não viram e que não subiram no coração do homem (I Coríntios 2:9). Afinal há coisas que se discernem espiritualmente (I Coríntios 2:14). E não podemos chegar ao mesmo entendimento do profeta sem passar pela mesma experiência.
Embora não entendamos tudo sobre a Criação, nem mesmo qual a abrangência e significado do termo “princípio” na obra criadora – podemos saber que houve uma criação e regozijar-nos neste fato. O Senhor quer que saibamos sobre Sua Criação, pois concedeu-nos três relatos da Criação nas escrituras: Gênesis 1-2, Moisés 2-3 e Abraão 4-5; além do relato do Templo [2].
Todos os relatos da criação usam a expressão “princípio”. Todavia, sabemos, por outras escrituras, que a Terra não foi à obra inaugural de Deus (Moisés 1:33, Hebreus 11:3). Assim, “princípio” nos relatos da Criação se referem ao inicio da Dispensação desta Terra. Trata-se de um ponto inaugural para os filhos de Deus que entrariam no Segundo Estado. O Senhor disse a Moisés: “far-te-ei um relato apenas sobre esta Terra e seus habitantes. Pois eis que há muitos mundos que pela palavra de meu poder passaram. E há muitos que agora permanecem e são inumeráveis para o homem; mas todas as coisas são enumeráveis para mim, pois são minhas e eu conheço-as. (...) Os céus, eles são muitos e são inumeráveis para o homem; mas são enumeráveis para mim, pois são meus. E como uma terra com seu céu passará, assim outra surgirá; e não há fim para minhas obras nem para minhas palavras. Pois eis que esta é minha obra e minha glória: Levar a efeito a imortalidade e vida eterna do homem. E agora, Moisés, meu filho, falar-te-ei a respeito desta Terra na qual estás; e escreverás as coisas que te direi.” (Moisés 1:35-40, sublinhei).
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[1] “Os primeiros comentários judeus e cristãos sobre a criação presumiam que Deus havia organizado o mundo a partir de materiais pré-existentes, salientando a bondade de Deus na formação de uma ordem que mantivesse a vida., mas a incursão de novas ideias filosóficas no século II levou ao desenvolvimento de uma doutrina que Deus criou o universo ex nihilo — “do nada”. Isso acabou se tornando o ensino dominante sobre a criação dentro do mundo cristão. A fim de salientar o poder de Deus, muitos teólogos justificavam que nada poderia ter existido antes Dele. Tornou-se importante em círculos cristãos afirmar que Deus estava completamente sozinho originalmente.
A criação “ex nihilo” ampliou o abismo percebido entre Deus e os homens. Tornou-se menos comum ensinar que as alma humanas já existiam antes do mundo ou que poderiam herdar e desenvolver os atributos de Deus em sua totalidade no futuro. Gradualmente, como a depravação da humanidade e a imensa distância entre o criador e criatura foi salientada cada vez mais, o conceito de deificação se enfraqueceu na cristandade ocidental, apesar de ainda continuar a ser o dogma central da ortodoxia oriental, um dos três maiores ramos do cristianismo.” (Tópicos do Evangelho: “Tornar-se como Deus”, https://www.lds.org/topics/becoming-like-god?lang=por)
[2] Nos Templos da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias os membros fiéis recebem uma investidura de poder e conhecimento, que inclui elementos do Plano de Salvação, como a Criação, a Queda e a Expiação. “Em sentido geral, é um dom de poder que provém de Deus. Os membros dignos da Igreja podem receber uma investidura de poder por meio das ordenanças do templo, que lhes dão as instruções e os convênios do Santo Sacerdócio requeridos para se alcançar a exaltação. A investidura inclui instruções acerca do plano de salvação.” (Guia para o Estudo das Escrituras “Investidura, Investir”)
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